A Arquitetura e as metas climáticas para 2030
- Marcos Vinícius de Lima

- 20 de nov. de 2023
- 5 min de leitura
Atualizado: 25 de abr.
Em 2030, cerca de metade dos edifícios em que os americanos vivem, trabalham e fazem compras terão sido construídos depois do ano 2000. Aproximadamente 53% dos espaços residenciais no mundo em 2030 serão construções que ainda não existem.

A maior parte do espaço construído entre 2000 e 2030 será residencial, prioritariamente serão casas. Serão necessários mais de 30 bilhões de metros quadrados de novos espaços residenciais até 2030.
Neste cenário, espera-se que a área útil no setor de edifícios em todo o mundo aumente 75% entre 2020 e 2050, dos quais 80% estejam em mercados emergentes e em economias em desenvolvimento. O último relatório da Agência Internacional de Energia pontua que 82% da população na América Latina viverá em cidades até 2050.
A demanda por aparelhos elétricos e equipamentos de climatização continua a crescer, especialmente nos países emergentes e em desenvolvimento, onde 650 milhões de aparelhos de ar condicionado serão instalados até 2030 e outros 2 bilhões até 2050.
Todas essas projeções que consideram cenários atuais, políticas públicas e as tendências de mercado serão utilizadas na próxima Conferência de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (COP 28), que acontece no mês de Dezembro em Dubai.
Os estudos apontam que, caso as edificações continuem sendo projetadas e construídas como estamos fazendo hoje, não vamos atingir as metas climáticas até os anos de 2030 e 2050. A estratégia envolvendo as construções se chama net-zero emissions (NZE), ou seja, "emissões líquidas zero", um cenário positivo de energias renováveis e sem emissões de gases de efeito estufa.

Para atingir esse cenário de emissões zero, as edificações ZEB, ou “energia zero” são o futuro da construção civil, afirma o especialista Charles Kibert, engenheiro e professor da Universidade da Flórida e autor de livros referência sobre edificações sustentáveis e eficientes. Para ele, edifícios autossufientes em energia serão o antídoto contra a escassez de recursos.
Toda a energia consumida por uma família em atividades cotidianas como aquecer a água, usar eletrodomésticos e até mesmo recarregar um veículo elétrico deve ser fornecida pelo próprio edifício através de fontes renováveis.
Segundo o especialista, o “Santo Graal” para a sustentabilidade energética da construção civil (setor que consome um terço de toda energia produzida no mundo) são os Edifícios de Energia Zero (zero energy buildings ou ZEBs, na sigla em inglês), que produzem a energia do que consomem ao longo de um ano, ou até mesmo mais.
Longe de um exercício de futurologia, os ZEBs já estão sendo incorporados na estratégia energética de diversos países no mundo, como Alemanha, Noruega e também nos Estados Unidos. Segundo Kibert, na Califórnia é lei que os edifícios residenciais tenham energia zero já em 2020 e os comerciais até 2030. “Em um planeta em constante aquecimento, viver dentro do orçamento da energia produzida pela natureza será imperativo”, afirma.
Prédios comerciais e residenciais são grande consumidores energéticos. Nos EUA, eles usam 40% da energia primária e 70% de toda a eletricidade produzida. Se continuarem nesse ritmo, em 2025 eles estarão consumindo mais que o setor industrial e de transportes juntos. A esperança está nos Edifícios de Energia Zero, que ao longo de um ano produzem mais energia do que consomem.

Os métodos de produção podem ser os mais diversos. O mais comum é o fotovoltaico, que usa a energia do sol para gerar energia. Tudo depende das características de cada região. A Alemanha tem menor incidência de sol, entretanto produz mais energia solar que muitos países tropicais devido à tecnologia e incentivos governamentais.
Para ser um ZEB, um edifício também precisa contar com moradores conscientes, capazes de viver com um “orçamento energético” determinado pela capacidade de produção do sistema adotado.
Cabe a nós, profissionais atuantes da construção civil, fazer parte deste plano de sustentabilidade em nossos projetos para ajustar as futuras construções ao meio ambiente sem efeitos colaterais.
Em um artigo recente no THE JOURNAL OF THE AMERICAN INSTITUTE OF ARCHITECTS, a consultora estratégica sobre clima e sustentabilidade Lisa Richmond diz que "embora desejemos que os líderes e investidores mundiais pensem profundamente sobre o desenvolvimento, também precisamos que reconheçam a amplitude do ambiente construído: tem impacto em inúmeros elementos da vida e oferece múltiplas oportunidades para cumprir os objetivos de mitigação das alterações climáticas da ONU".
Países desenvolvidos devem se perguntar: devemos construir algo novo? Manter e adaptar os edifícios existentes elimina grande parte das emissões relacionadas com os materiais dos novos edifícios. Em países em desenvolvimento é inevitável que novas edificações sejam construídas para abrigar a crescente evolução das cidades, porém a falta de planejamento urbano e a falta de edificações eficientes deve ser resolvida o quanto antes.
Para entender a melhor maneira de trabalhar com a energia nas edificações a Comissão Econômica das Nações Unidas para a Habitação na Europa (UNECE) desenvolveu o programa Housing2030. Entre as estratégias, encontra-se a Pirâmide de Energia.

Para o setor da habitação, a sensibilização refere-se ao comportamento dos residentes e aos seus padrões de consumo de energia. O primeiro passo consiste no arquiteto ter uma compreensão avançada do consumo de energia dentro de uma residência e os motivos desse consumo.
A partir do entendimento dos motivos do consumo de energia, é possível ter medidas de conservação de energia em termos de uso cuidadoso da energia pelos residentes.
Entende-se que a energia mais barata que existe, é aquela que não é necessário utilizar.
As medidas de eficiência energética representam o próximo nível na pirâmide energética e há muitas soluções disponíveis, desde o correto uso de materiais de isolamento das fachadas, janelas eficientes, instalação de equipamentos eficientes, sistemas de iluminação baseados em LED, até medidas de renovação e reforma da fachada do edifício. Finalmente, a utilização de fontes de energia renováveis para cobrir a restante demanda de energia completa a pirâmide energética.
Percebe-se que o correto entendimento do caminho para obter um edifício ZEB nunca deve partir pela instalação de painéis fotovoltaicos, ou seja, essa ação deve ser somente a última etapa de todo o processo de compreensão, análise, estratégias de conservação de energia, estratégias de eficiência e, somente por fim, geração de energia renovável.
Essa pirâmide traduz o norte que as legislações e selos de edificações eficientes e sustentáveis estão seguindo para regular a construção do novo parque habitacional no mundo todo.

Condomínio residencial net-zero emissions. Freiburg, Alemanha., projeto: Rolf Disch.
O projeto do condomínio residencial net-zero emissions é um exemplo onde o balanço energético zero é alcançado considerando a produção energética anual frente a demanda. Algumas das 59 casas geminadas com terraço construídas têm um resultado primário positivo, outras negativo, resultando em uma média geral positiva. As casas eficientes são cobertas com 3150m2 de geradores fotovoltaicos integrados na cobertura. O projeto arquitetônico das casas baseia-se no conceito de Casa Passiva com a correta orientação solar e forma dos edifícios.
Aqui na LABZEB somos especialistas em projetar com metodologias de simulação que garantem maior eficiência energética e conforto ambiental. Auxiliamos projetistas a utilizarem as vantagens da simulação computacional em seus projetos também!




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