top of page

Estudo de desempenho térmico: contratar no projeto ou com a obra pronta?

Com o atual clima se apresentando em constante transformação, estudar o desempenho térmico dos espaços que habitamos é fundamental para garantir qualidade de vida aos nossos clientes.


Nos últimos meses acompanhamos ondas de calor seguidas por frentes frias. Médias de temperaturas acima do normal e variações térmicas grandes em um único dia. Tudo isso deve ser absorvido pelas nossas construções e refletir em ambientes termicamente saudáveis para os usuários. Mas, nem sempre é assim.


ree


A demanda de clientes solicitando um diagnóstico térmico de suas casas recém construídas está aumentando. Edificações habitacionais novas já demonstrando que não são capazes de servir como refúgio do ambiente externo, pelo contrário, superaquecem em dias quentes e demandam uma carga alta em climatização para garantir que os moradores consigam habitar o interior dos ambientes. O clima está mais quente, ondas de calor mais frequentes, e as construções cada vez menos resilientes.


Planejar uma casa não é apenas decidir o layout ou escolher acabamentos. Hoje em dia, com as exigências da NBR 15.575 em vigor, precisamos considerar o desempenho térmico desde a concepção do projeto. Afinal, cada edificação é única: orientação solar, materiais, clima local e estilo de vida dos moradores influenciam diretamente no conforto e na eficiência energética. Neste artigo, vamos discutir por que a escolha mais inteligente é contratar o estudo de desempenho térmico na fase de projeto, em vez de esperar a casa ficar pronta.


Cada projeto é único


Não existe uma “receita pronta” que funcione para todos os climas ou todas as fachadas. No litoral, a casa enfrenta brisas e umidade; no interior, o desafio é o sol forte do meio-dia e eventuais noites frias. Construções de baixa capacidade térmica (leves) sofrem com as variações de temperatura em casas com grandes vãos envidraçados e aquecem demais. Construções pesadas podem ficar muito frias no inverno e muito quentes no verão.


Fatores únicos de projeto e materiais alteram a forma com que a edificação ganha ou perde calor. Se ignorarmos as variáveis, corremos um risco alto de ter ambientes desconfortáveis, altos custos de climatização e reclamações futuras. Frustração com o investimento. Sem contar com os dados a saúde física e mental.


Norma Brasileira de Desempenho


A norma exige que, em projetos de habitação, os ambientes de permanência prolongada (dormitórios, por exemplo) mantenham a temperatura operativa dentro de faixas específicas com certa porcentagem de horas ao longo do ano. Isso significa que a casa precisa ser projetada para atender a critérios anuais onde existem oscilações de temperatura, considerando:


  • Tomáx (Temperatura Operativa Máxima Anual)

  • Tomín (Temperatura Operativa Mínima Anual)

  • PHFTUH (Percentual de Horas de Ocupação em Faixa de Temperatura Operativa).


Deixar para contratar o estudo apenas após a construção, é provável que a casa não atenda a esses indicadores, gerando retrabalhos e gastos adicionais. Também vale ressaltar que atingir índices mínimos não é garantia nenhuma de conforto. Com os eventuais eventos climáticos, não basta seguir índices baixos para garantir que a construção tenha qualidade reconhecida pelos moradores.


Integração de soluções


Na fase de projeto, utilizando ferramentas de simulação computacional para avaliar o desempenho e o conforto térmico, podemos explorar diversos dispositivos passivos de controle térmico que beneficiam economicamente a execução:


  • Sombras estratégicas: Em caso de superaquecimento, projetar beirais largos, brises verticais ou horizontais posicionados conforme orientação solar. Mudança nos materiais de construção em função da inércia térmica.

  • Proteção contra ganho direto de calor: Pode testar a posição e a dimensão ideal de esquadrias, uso de vidros de baixa transmitância (U) e fator solar (FS) adequado.

  • Isolamento térmico: A escolha correta de materiais (EPS, lã mineral ou sistemas EIFS), evitando pontes térmicas tem um benefício considerável.

  • Ventilação cruzada: A disposição de janelas opostas para fluxo natural de ar, reduzindo a temperatura interna e diminuindo a demanda de ar-condicionado. Quando o estudo entra tardio, essas soluções passam a ser “gambiarras” (adaptações após a obra), que quase sempre envolvem custo de demolição parcial, intervenção em acabamentos e até reforço estrutural.


Estudo de caso


Recentemente fomos chamados para uma perícia em uma obra, a qual iremos manter os dados sensíveis em sigilo. A obra é residencial e foi construída utilizando sistema leve de construção, light steel frame, em uma cidade de verão quente e inverno rigoroso.


Projeto sem simulação


A equipe da construtora confiou que seu método executivo enxuto atenderia ao desempenho mínimo requerido. A obra possui dois pavimentos com térreo social integrado e dormitórios no pavimento superior. Sem estudo de desempenho térmico, a obra foi entregue e após 2 meses morando na nova casa, a família solicitou uma perícia térmica. Motivo: era impossível permanecer no segundo pavimento da edificação durante o dia. No térreo, era necessário o uso de climatização.


A temperatura interna dos ambientes do pavimento superior passava dos 30 graus com facilidade durante o dia e os moradores se sentiam exaustos. Eles relataram sensação de “forno” dentro de casa. O alto custo de energia elétrica foi o ápice. A promessa de uma casa confortável utilizando um sistema construtivo moderno não foi cumprida.


Ressaltamos que o sistema light steel frame é um sistema complexo, que pode ser construído por uma variação enorme de diferentes materiais de emplacamento (fechamento). Cabe ao projetista decidir pelo melhor material a ser utilizado. A obra em light steel frame pode ser muito boa ou muito ruim do ponto de vista de desempenho térmico, a depender exclusivamente das escolhas do projetista.


Contratação tardia do estudo térmico

Buscando solucionar o problema com diálogo com a construtora, os moradores buscaram uma perícia que apontou que a casa atendia aos critérios mínimos de desempenho, porém, isso não é garantia de conforto térmico.


A temperatura mínima simulada dentro da edificação foi de 6 °C. A temperatura máxima foi de 32,1 °C. Era a temperatura registrada dentro de um dos dormitórios, sendo que todos eles possuem insolação Oeste.


Apesar de representar desempenho mínimo, analisamos a edificação através do método de conforto adaptativo (ASHRAE), conforme as simulações térmicas anuais de cada ambiente.



As análises de conforto adaptativo eram claras, existe um percentual frustrante de superaquecimento dos dormitórios no segundo pavimento da edificação. O ambiente térreo de convívio social estava mais protegido, o que fez com que a média da edificação de horas em faixa de temperatura operativa aumentasse. Porém, os ambientes superiores não possuem sequer 50% do ano em uma temperatura adaptativa de conforto, ou seja, demandam climatização.


A frustração com a casa ficava evidente. O proprietário já planejava a venda do imóvel e não queria nunca mais construir com a mesma construtora, nem com o mesmo sistema construtivo (light steel frame).


As opções da família a partir dali eram duas:


  • Usar ar-condicionado 12h por dia, pagando contas de energia que duplicariam o orçamento mensal. Além disso, começaram a culpar a construtora pelo “projeto mal feito” — afetando reputação e relacionamento.


  • Investir em reforma: incluir sombreamento extra (cobertura de pergolado, brises adicionais) e aplicar isolamento (sistema EIFS) externamente. O custo da reforma poderia chegar a quase 20% do valor de construção da casa. E todo esse gasto e desgaste poderia ter sido evitado.


Eficiência gera economia


A simulação computacional em EnergyPlus permite modelar a edificação e simular o clima local. Assim, antecipamos:


  • Onde o sol bate diretamente e os ambientes de superaquecimento;

  • Quais elementos opacos/translúcidos absorvem mais calor;

  • Quais materiais de construção interferem diretamente no conforto e quais não fazem muita diferença;

  • Qual a área de ventilação necessária.


Se descobrimos que a parede de um ambiente de permanência prolongada receberá radiação intensa, reforçamos o sombreamento, diminuímos a chance de ganhar calor.


Ajustar um projeto ainda na prancheta é uma questão de editar desenhos e trocar especificações de materiais e verificar os resultados em tempo real, sem reformas. Após a obra, qualquer modificação exige :


  • Custos extras e conversas difíceis com a construtora;

  • Disputas judiciais na maioria dos casos;

  • Contratação de mão de obra para demolição/recuperação;

  • Ajuste de acabamentos (reboco, pintura, piso). Esses custos são amplificados por “desperdícios”: materiais jogados fora, horas de carpintaria e eletricidade extras, e até a necessidade de realocar os moradores durante o serviço.


Ninguém quer entrar na casa nova já pensando em reformar enquanto ainda nem finalizou sua mudança!


Contratar o estudo na fase de projeto é um investimento, não um gasto. Não deixe que o morador descubra que a casa não é confortável. Os benefícios diretos de projetar com desempenho térmico:


  • Evita surpresas caras após a obra;

  • Garante conforto térmico desde o primeiro dia;

  • Reduz desgastes emocionais e reclamações de moradores;

  • Constrói reputação positiva para sua empresa e rende indicações;

  • Fomenta sustentabilidade, reduzindo a pegada de carbono (menos uso de ar-condicionado).


Transforme o desempenho em seu aliado de negócios, use com sabedoria a aplicação tecnológica e dê valor aos seus projetos.


Quando planejamos corretamente, a obra sai do jeito certo, entregue com conforto e eficiência. No seu próximo projeto, utilize a simulação térmica como aliada. Isso garantirá que cada parede, cada vidro e cada beiral atuem a favor do seu cliente.


A LABZEB Arquitetura Eficiente é especialista em simulação computacional conforme a NBR 15.575 e projetos de edificações de energia zero (NZEB).


Se você deseja oferecer casas confortáveis e eficientes, nós podemos ajudar. Trabalhamos desde a fase de concepção até o pós-obra, com laudos técnicos e recomendações práticas para transformar seu projeto em referência.

 
 
 

Comentários


bottom of page