Tendências em construções sustentáveis para 2025
- Marcos Vinícius de Lima

- 8 de dez. de 2024
- 7 min de leitura
Atualizado: 25 de abr.
Participamos do Greenbuilding Brasil 2024, o maior evento de construções sustentáveis da América Latina em Porto Alegre nos dias 05 e 06 de novembro e de forma online entre os dias 08 e 15 de novembro.

O evento abordou temas centrais como a reconstrução do Rio Grande do Sul, principalmente com os líderes do SINDUSCON RS que participaram da organização do evento, comemorando os 75 anos da instituição. A inovação em construções sustentáveis, eficiência energética, gestão sustentável de recursos e o mercado de carbono também foram temas importantes.
No ranking de 180 países que o Building Council (USGBC) abrange com suas certificações sustentáveis, o Brasil ocupa o quinto lugar entre os que mais certificam. Os estados do sul se destacam no contexto nacional e o Rio Grande do Sul possui uma participação de 26% nas certificações platinas, o mais alto nível do selo.
Entre tantos conteúdos, palestras e debates, selecionamos alguns tópicos relevantes que devem ser tendência no próximo ano para a construção civil.
Adaptação climática das cidades
Inevitável. A cidade do evento foi Porto Alegre, uma região extremamente afetada pelas enchentes recorrentes nos últimos meses e que está enfrentando uma grande crise de infraestrutura sem precedentes.

A importância de abordar a sustentabilidade de forma ampla foi destacada pelo presidente do Sindicato da Indústria da Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplenagem (SICEPOT-RS), Rafael Sacchi. Ele argumentou que a sustentabilidade não pode ser vista apenas como um empreendimento verde, mas como uma sociedade sustentável, onde empresas e entidades devem investir em tecnologia e capacitação para gerar emprego e fortalecer a economia.
Sacchi ressaltou que enfrentar eventos climáticos adversos exige obras bem estruturadas e a união entre o setor público e privado. Ele lembrou que as empresas se mobilizaram rapidamente para ajudar na reconstrução de estradas, pontes e taludes após as enchentes no Rio Grande do Sul. E ainda defendeu que a resiliência demonstrada pelo povo gaúcho, assim como a infraestrutura básica (como estradas e energia), são essenciais para sustentar o desenvolvimento da sociedade.

Neste mesmo contexto, investimentos da ordem de 100 Bi devem ser feitos no estado do Rio Grande do Sul nos próximos anos, visando a recuperação do estado.
De forma ampla, o assunto já é considerado prioritário também nos debates dos líderes mundiais. Em discurso na abertura do Urban 20, grupo de engajamento do G20 sobre cidades, Lula lembrou que as cidades são responsáveis por 70% das emissões de gases de efeito de estufa e por 75% do consumo global de energia. durante o U20, no Rio de Janeiro, foi entregue ao presidente uma proposta de criação de um fundo garantidor para facilitar a chegada de US$ 800 bilhões anuais em financiamento às cidades, direcionados a projetos de adaptação e mitigação climática. Esse é um assunto que vai pautar a construção civil diariamente no próximo ano.
A importância das certificações ambientais para financiamento verde
Um dos assuntos mais aguardados foi o painel: descarbonização traz oportunidades junto as Instituições Financeiras e o mercado de capitais. Diogo Castro e Silva é sócio diretor da Áurea Finvest, e ressalta que as metas climáticas somente serão atingidas se o mercado financeiro providenciar os recursos necessários.

Para iniciar o entendimento, precisamos compreender que o modelo de financiamento da construção está mudando no Brasil, ou seja, o uso da poupança para financiar a construção civil está deixando de existir. Esse cenário abre espaço para o mercado de capitais que vai começar a financiar as obras, mudando a forma como os financiamentos são executados. Não haverá mais uma forma bilateral (banco x cliente), mas sim, uma forma dinâmica com múltiplos atores que influenciam nas decisões.
Neste contexto, é preciso uma padronização de informações por parte do setor da construção civil para comunicar da melhor forma o standard de desempenho ambiental da construção com o mercado de capitais, a fim de identificar com segurança os padrões de sustentabilidade, evitando as práticas de greenwashing.
Conforme Diogo, o mercado possui fundos interessados em investir em construções sustentáveis mas não consegue enxergar nas construtoras interessadas as reais práticas de sustentabilidade adotadas nos projetos, o que acaba dificultando os recursos.
Como solução, o uso das certificações sustentáveis e o mercado regulado de carbono. O padrão de uma certificação condiz com uma auditoria que valida que o empreendimento está cumprindo com requisitos técnicos de eficiência e sustentabilidade.
Essa padronização diminui o risco do investimento. O principal risco financeiro nos ativos imobiliários já está olhando para as mudanças climáticas pensando no longo prazo, ou seja, imóveis que não são adaptados ao clima possuem alto risco no mercado patrimonial de não serem ocupados e perderem liquidez.
Mercado de carbono e metas na construção civil
O mercado regulado de carbono é um tema relevante que vem ganhando destaque de todos os setores, principalmente na indústria, porém, a construção civil deve se atentar as possibilidades pois a análise do ciclo de vida dos materiais utilizados em uma obra revela uma enorme pegada de carbono que será contabilizada.

A nova sede de escritórios da Schneider Electric, na França, foi apresentada no evento pela Patrícia Lombardi, abordando o caso da IntenCity como um modelo de edificação zero carbono (net-zero). Um dos pontos principais do projeto foi a intenção de reunir seus funcionários que usavam 5 edificações diferentes em uma única edificação nova, com materiais novos ao invés de reformar vários edifícios antigos, aliando também a baixa pegada de carbono no deslocamento dos funcionários em horário de trabalho.
Um exemplo internacional do que está sendo feito na construção civil aliando os benefícios do mercado de carbono foi apresentado pela engenheira Luisa Ramos, da MACE, em Londres. Na atuação da MACE já são abordadas metas de carbono incorporado em cada projeto executado.

O estudo de caso apresentado pela Luisa foi o EDGE London Bridge. A incorporação do EDGE possui metas relacionadas ao carbono incorporado na edificação de 600 kg/CO² m² de obra. Essa meta está relacionada a incentivos financeiros e multas em caso de descumprimento. A remuneração em carbono varia desde 200 Libras (R$ 1460,52) por kg/CO² por m² incorporado até 3.000 Libras (R$ 21.907,74).
Esse projeto só é possível quando os fornecedores de toda a cadeia da construção civil possuem informações disponíveis sobre a pegada de carbono dos seus produtos. Esse levantamento de informações ainda é praticamente inexistente no mercado brasileiro, e uma das alternativas é usar a plataforma CCARBON.
O mercado de carbono está amadurecendo e deve ser aprofundado nos próximos meses no Brasil. Esse mercado, regulado por mecanismos do Acordo de Paris, permite que países ou empresas compensem suas emissões comprando crédito de carbono de nações ou projetos que reduzem gases de efeito estufa.
A aprovação do projeto de lei que regula o mercado de carbono foi comemorada no último dia 14/11 no Senado. O projeto, que ainda será submetido à Câmara dos Deputados, cria regras para as emissões de gases de efeito estufa no país.
A votação simbólica no Senado que aprovou a proposta ocorreu nessa quarta-feira (13), no mesmo dia em que o Brasil apresentou a nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC na sigla em inglês), com a meta de emissões de gases de efeito estufa, às Organizações das Nações Unidas. Alckmin destacou que o projeto é uma das prioridades do governo federal.
Bairros sustentáveis
Não apenas projetos isolados são considerados sustentáveis se são construídos em bairros sem infra estrutura voltada a qualidade de vida. O novo urbanismo proporciona um entorno sustentável para agregar qualidades técnicas em larga escala, incentivando um modo de vida sustentável.

O exemplo apresentado pela engenheira Kessia Helena, diretora de operações do empreendimento Eurogarden Maringá, no Paraná. O Eurogarden Maringá é o primeiro bairro da América Latina a conquistar a pré-certificação WELL. É considerado o bairro mais sustentável do mundo, já que conquistou a Certificação LEED v.4.1 Comunidades com a maior nota entre empreendimentos de mais de 160 países.
A tendência de bairros sustentáveis que acolhem as pessoas e incentivam que os projetos das edificações sejam inovadores e sustentáveis está colaborando para que os investidores e moradores criem consciência desde a fase inicial do investimento, onde faz mais sentido você projetar uma casa com estratégias de sustentabilidade em um bairro que todos os vizinhos pensam da mesma forma.
A certificação aliada come estratégias de sustentabilidade é um importante fator de viabilidade econômica também. Ao apresentar o estudo de caso da Comunidade do Aço, Vinicius Benevides da Dimensional Engenharia destaca que entregar um condomínio com alta eficiência energética e apartamentos que consomem menos eletricidade garante que as famílias podem economizar e ter maior segurança financeira para quitar o próprio imóvel. Além da sustentabilidade ambiental, é olhar para a saúde financeira do morador.

No contexto das cidades sustentáveis, o arquiteto Francisco Maraschim, da Space Hunters, fez uma crítica ao modernismo e ao modelo atual de gestão das cidades.
Conforme Francisco, as cidades possuem diferentes problemas relacionados ao planejamento voltado ao uso excessivo do veículo e a baixa caminhabilidade das pessoas. No passado as cidades eram ordenadas de forma mais simples e permitiam que as pessoas ordenassem melhor os espaços. A partir do modernismo, o poder público passou a buscar gerenciar em excesso as permissões em nível de lote privado, negligenciando os serviços de uso público. Ou seja, perde-se tempo em excesso regulando a relação entre vizinhança e aprovações burocráticas de projetos enquanto todos estão usufruindo de uma infraestrutura pública de péssima qualidade. O foco está no lugar errado, causando baixa eficiência.
Desta forma, pensar em um futuro sustentável não é pensar apenas em um prédio isolado sendo construído do zero. Grande parte do parque edificado dos próximos 50 anos já foi construído e está em um contexto que não permite uma vida sustentável. As cidades estão se tornando insustentáveis.
Com a baixa densidade dos centros urbanos, a baixa caminhabilidade, excesso de asfalto e calor, o planejamento das cidades é feito para produzir insegurança e desconforto para andar a pé. Isso desestimula o comércio local, desestimula hábitos saudáveis e não adianta ter um modal de transporte elétrico, sustentabilidade é poder optar por não usar veículo seja qual for.
Cidades europeias são conhecidas por seus habitantes usarem bicicletas ou caminharem. Isso é incentivado por um planejamento que auxilia o pedestre. No Brasil, o planejamento urbano faz o pedestre se tornar uma vítima da sua própria cidade.
Transformar a indústria da construção, vista como uma das maiores vilãs das mudanças climáticas, em uma aliada poderosa na luta pela sustentabilidade é não só possível como essencial. Através do uso de materiais sustentáveis, melhoria da eficiência energética, integração de energias renováveis e design de baixo impacto, podemos construir um futuro em que as edificações não apenas minimizem seu impacto ambiental, mas contribuam positivamente para a mitigação das mudanças climáticas.
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